Nos passos de Colombo
Montanhas de cortar a respiração. Um clima ameno e solarengo, por muitos considerado o melhor do mundo. Socalcos salpicados de plantas exóticas. Assim como Cristóvão Colombo, deixámo-nos seduzir por esta ilha das Canárias. Venha descobri-la connosco.
São 10:00 da manhã. Embalado pelas ondas do Atlântico, o ferry “Volcán de Taburiente” chega ao seu destino: San Sebastián de La Gomera. Envolta numa quietude contagiante, a capital da ilha recebe-nos com um sorriso cheio de sol. Para quem vem do sul de Tenerife (onde o bulício do turismo é constante), saborear o silêncio torna-se um privilégio. Surpreendentemente avassalador, é apenas intercalado pelas vozes dos viajantes e pescadores que se encontram no porto. Mas não se deixem iludir. Ainda que pequena, esta cidade (parte da província de Santa Cruz de Tenerife) encerra infindáveis tesouros: Por exemplo a “Torre del Conde”. Influenciada pela arquitectura portuguesa, a referida fortaleza de origem medieval é a melhor conservada das Canárias. A Igreja de Nossa Senhora de Assunção, impressionante jóia de Arte Sacra, com obras dos séculos XVI a XIX. E, por fim, a “Casa de la Aguada”. Foi aqui que Cristóvão Colombo se reabasteceu de água antes de partir para a América. Enquanto contemplamos o humilde poço, somos como que transportados para 1492 – o ano em que Colombo tenta, pela primeira vez, descobrir o novo continente. Sem sucesso. No ano seguinte, o incansável navegador regressa à ilha para reunir forças para uma nova expedição. O êxito teima em vingar. Em 1498, contudo, sopram ventos de triunfo: Após uma terceira passagem por La Gomera, Colombo descobre finalmente a América.
San Sebastián convida a passear pelos séculos. As magras ruas respiram história e exibem, orgulhosamente, inúmeros edifícios da bonita arquitectura Canária. Sabe bem estar aqui.
Palavras feitas de assobios
Inebriados pela chama da cultura, partimos à descoberta do Parque Nacional de Garajonay. Considerado Património da Humanidade em 1986 pela UNESCO, deve o seu nome à lenda dos amantes de Gara (Gara e Jonay). Desiludidos pelo facto de a família desaprovar o seu amor, decidiram atirar-se do ponto mais alto da ilha (1487 metros).
Com uma extensão de 4000 hectares, Garajonay é uma autêntica relíquia de bosques subtropicais que ocuparam uma parte considerával da Europa e Norte de África há milhões de anos. Envolto frequentemente por uma espessa cortina de nuvens, este verdejante bosque de “laurisilva canária” oferece paisagens plenas de magia.
Por entre socalcos bordejados de vinha, batatas, bananas e outras plantas, visitamos o resto da ilha. As surpresas são inúmeras. Os miradouros. “De Manaderos”, “De Los Roques”, “De Vallehermoso”, entre outros. Como que “torres de menagem” naturais, fotografam vistas únicas de La Gomera, Tenerife e Teide. O artesanato. Elaborado apenas com produtos da ilha (por exemplo madeira de laurisilva e folhas de palmeira), inclui cestas, colchas, centros de mesa, etc. A gastronomia. Queijos, vinhos aromáticos, licores, mel extraído das palmeiras existentes na ilha – as possibilidades são infinitas. E o Silbo. Seria uma lacuna escrever sobre La Gomera e omitir o Silbo. Utilizada desde tempos imemoriais, esta linguagem de assobios foi criada para os habitantes comunicarem a longas distâncias nas montanhas. Considerada Património Cultural da Humanidade em 2009, é indubitavelmente um eco do génio humano. Não surpreende que a arte de transformar palavras em assobios seja disciplina obrigatória nas escolas.
A tarde caminha a passos largos. Ao contemplarmos a natureza deslumbrante que nos rodeia, uma frase de Victor Hugo vem-nos à memória: “É triste pensar que a natureza fala e que o género humano não a ouve.” Talvez não devessemos entrar em desacordo com este génio francês, mas aqui na La Gomera a natureza fala-nos. E nós, tal como Cristóvão Colombo, escutamo-la.